14 de março de 2012

Não quero viver assim


Vou começar com um pequeno resumo para que não querer viver assim faça sentido e não choque logo pelas primeiras linhas.
O amor é o maior da vida, sem queixas, sem dramas e com paixão. Tudo o que eu quero está no homem com quem casei. E isto importa-me e muito.  Gostava de esclarecer logo isto.
Depois, porque é preciso, para além de juntar trapos, ter dinheiro para os comprar, arranjar um emprego. E se se nasce com jeitinho especial para alguma coisa é mais fácil.
Há quem tenha queda para contas, quem seja exímio a compreender motores de carros ou fusíveis, goste de curar pessoas e não lhe faça impressão o sangue, jogue futebol espetacularmente e há até quem perceba imenso de coisas estranhas (sem ofensa) como biologia, astronomia, arqueologia, economia, advocacia. Enfim, para mim, menina de letras, é chinês. Avançado.
Depois há quem nasça uma pessoa interessada, interessante até mas com pouca aptidão. Dá uns toquezinhos na escrita criativa e literária mas talvez porque não há nada a fazer e lhe está no sangue. Já assim eram os avós. Isso não é ter grande talento. A meu ver, não havia nada a fazer.
Quem tem jeito para escrever procura um emprego num jornal, numa revista ou numa agência de publicidade se for minimamente criativa.
Foi o que fiz. Porque achava a minha imaginação simpática, o meu humor bom e com algum sentido de observação.
Escrevi um livro de poesia e vendi imensos. No dia do lançamento, depois de ter ido para as livrarias (como se fossem imensas) vendi no máximo dois.
Mas a sorte nunca foi muito minha amiga, já uma tia que uma vez me leu a sina me avisou que isto me ia acontecer, que a minha safa era pensar sempre duas vezes antes de tomar decisões importantes.
Andei por aqui e por ali a receber misérias e a sair às tantas sem nada para fazer, sentada à frente do computador à espera que bebessem o café, que fumassem o cigarro (ou o charro) e que chegassem as ideias.
Engoli. Depois fiz 30 anos e pareceu-me estranho andar assim à mercê de egos. Mas andei à mesma. Que remédio.
Depois de estágios, escravidão, alguns gritos de chefes, falências e eu sempre com um sorriso na cara, eis que grávida de 3 meses a empresa onde eu estava (de carácter bastante duvidoso diga-se) fechou.
E eu e a minha barriguinha andámos à procura de emprego até ganharmos vergonha na cara porque se já estava difícil com um corpo espetacular então com mais uns centímetros de diâmetro e a ideia futura de biberons fraldas e pediatras para o empregador, as opções tornavam-se ridículas. Ou melhor, impossíveis.
E fui bater a outras portas, em inglês resultaria melhor o que eu quero dizer. Indoor. Era a melhor opção.
Trabalhar a partir de casa como freelancer, preparar portefólio e curriculum, falar com pessoas, abrir caminho e ver a minha barriga crescer.
Pude arranjar o quarto como para uma princesa, coser cortinas e fazer rebordos de cama. Pude ir às compras devagarinho, lavar a roupa com detergente próprio para bebé e passar uma a uma, as suas vinte e cinco fraldas de pano, cueiros que nunca chegou a usar, camisas, bodies e outras vestimentas, tudo com uma dedicação e visão românticas que provavelmente nunca mais. Passeei o cão muitas vezes e ele ficou elegante e mimado, andei pelo rio, fiz um curso grátis de preparação para o parto que não me serviu para nada, fiz uma sessão fotográfica grávida cujas fotografias nunca pendurei na parede.
E depois ela nasceu e quer queiram quer não, nada volta a ser o mesmo e é um amor maior do que tudo o que se já viveu.
Logo no primeiro mês do nascimento dela comecei a mandar cv’s (nunca gostei desta abreviatura) e mandava a medo porque se me chamassem teria que deixar a minha ainda tão pequenina filha.
Pensando nesta minha inocência agora dá-me tanta vontade de rir. Se soubesse o que sei hoje.
Então com ela nascida e a vida diferente pedi o subsídio de desemprego mas não tive sorte porque a empresa duvidosa conseguiu que eu não tivesse um contrato de um ano apesar de ter trabalhado um ano e antes fiz um estágio profissional que não dá direito a subsídio. E depois porque sem subsídio de desemprego não se tem direito a subsídio de maternidade e lá fiquei eu, chorosa e envergonhada a olhar para os olhos de “o que é que vamos fazer” do meu espetacular marido e depois de suspirar um “tudo se resolve” e um abraço para me consolar.
E o que fizemos foi aguentar e continuar a procurar emprego e ter que decidir se a filha ia para a escola mesmo sem termos dinheiro para a pôr ou se eu ia ficando com ela em casa correndo o risco de não ter onde a deixar caso surgisse emprego.
Os meses foram passando e os trabalhos em casa diminuindo porque as empresas pequenas não se querem comprometer e estão em contenção de custos e já ninguém precisa de copywriter, esqueci-me de dizer que é isso que eu faço e por isso fui sendo parasita de mim mesma e na minha própria casa. Arrumando, deixando tudo impecável, cozinhando, amamentado e permanecendo naturalmente exausta e às vezes um bocadinho diminuída porque a maternidade é a melhor coisa do mundo mas não deixamos de ser gente com autoestima.  
Até que um dia surge uma boa oportunidade de apenas uma semana, o que já não é nada mau, de ganhar uns trocos bons numa grande agência e lá fui eu, mudando a vida a toda a gente da minha família e ao meu marido espetacular para poder ganhar esses trocos, curriculum e quiçá abrir uma porta para me contratarem como deve ser e ainda tive que pagar uns bons euros à minha querida empregada em quem confio tanto pelo “peso” a mais que lhe pus aos ombros ou ao colo durante essa semana e agradecer até à morte à minha sogra, mãe e cunhados que a receberam de um dia para o outro e a amaram como ela merecia.
E depois, esse trabalho tinha um horário que era das 9h30 da manhã às 19h30 da noite independentemente do trabalho que tinha em mãos.
Tudo bem. Quem sou eu para me estar a queixar. Ainda por cima porque trabalhei mais nessa agência em dois dias do que um ano na duvidosa.
Era só uma semana em que saía da agência a correr em desespero total para tentar ainda ver a minha filha que às 19h30 entra em sono profundo, que chata que gosta de se deitar cedo, dar-lhe beijos, aperta-la, snifa-la o suficiente para me durar três horas no nariz e deita-la.
Até amanhã.
(em lágrimas...)
E depois aperceber-me que ela está verdadeiramente ofendida comigo no auge dos seus sete meses e nem me olha nos olhos apesar de ser só eu a senti-lo e nem se ri muito comigo como fazia a semana passada e saber que estou a ser parva porque vai passar e para a semana a nossa vida volta a ser o que era e ela vai gostar de mim outra vez.
(lágrimas...)
Mas depois paro para pensar.
Eu não quero viver assim.
Não quero ganhar bom dinheiro e ver a minha filha, se tudo correr bem os meus filhos, trinta minutos por dia, com sorte.
E também não quero que o meu marido espetacular sinta isto que eu senti durante uma semana, todos os dias da sua vida. Porque devem ser os dois pais a educar, a estar, a viver e a gozar.
E porque se devem criar hábitos em que os cafés se bebem em casa e as ideias seguem um método porque a criatividade também tem fórmula e os charros se fumam ao fim de semana e o facebook, youtube e amigos devem ser doseados. E 9h30 é tarde para começar a trabalhar e uma hora e meia de almoço talvez seja muito e talvez não faça sentido.
Porque a desorganização é tanta que foi assim que se chegou a este ponto e a culpa desta crise desprezível não é só dos bancos, dos endividamentos, dos créditos. É também porque as crianças devem ser educadas em casa e preparadas para serem adultos bons, interessados e que amem o nosso país porque o conhecem.
Os pais devem trabalhar, claro, mas o suficiente para ganharem o suficiente para sobreviverem e para viverem bem, sem ser a medo que o dinheiro não chegue para pagar contas mesmo quando se trabalha 12 horas para uma empresa que lucra milhões por ano. Não se deve exigir o mínimo quando se é obrigado a dar o máximo. Dar a vida toda para que as coisas sejam para ontem porque não podem ser para amanhã. Mas porque é que não podem ser para amanhã?
O mundo tem que parar, respirar fundo e ver, de perto, o que se está a criar. Casamentos que correm riscos porque não existe nada chamado de intimidade de fim de semana, filhos desapoiados porque é todos os dias que os professores mandam trabalho para casa, e é preciso ver se está tudo bem, conversar, ser pai. Família longe uma da outra porque não há tempo para ir lá jantar porque os miúdos mal nos viram e assim é mais complicado e estamos tão cansados que só nos queremos deitar assim que eles fecharem os olhos e Deus queira que venham cansados da escola porque está tudo cansado nesta casa.
E nem há cinemas, nem teatros, nem passeios ao ar livre e toda a gente acha isto normal.
Porque eu sei, eu tenho a certeza que temos que trabalhar muito nos dias que correm, temos que ajudar o nosso país mais do que nunca, temos que produzir mas não é deixando os filhos à espera no prolongamento que Portugal evolui e chega mais longe.
A família é a base de tudo. Já para nem falar na felicidade. Pessoas felizes fazem mais, querem mais, contribuem mais.
E hoje só se pensa no imediato, aliás não é de hoje, tem-se vindo a pensar assim e por não olhar para o futuro é que o futuro está tão despido, desprovido, desanimado.
Ainda bem que arranjei este trabalho de uma semana, nunca me poderia queixar, a nossa filha sobrevive e não ficará um bebé infeliz por me ver 18 minutos por dia durante uma semana.
Mas para mim, será só uma semana porque não é possível que pai e mãe trabalhem até às oito da noite mantendo uma creche e alguém que os vá buscar porque os avós também trabalham, porque o ordenado jamais compensará.
E o dinheiro jamais compensa a educação.
Quero tudo. Sim. Quero. E não tenho vergonha de o dizer.
Porque sei que se tiver tudo posso fazer muito mais por Portugal. 
Quero um emprego estável, sem horas malucas nem estigmas maternais porque não há paciência para isso. São necessárias crianças no mundo. Quero um ordenado razoável, que corresponda exatamente aquilo que dou, nem mais nem menos. Quero chegar a casa e brincar com os filhos. Quero ter tempo para fazer uma sopa verdadeira. Depois quero jantar com o marido e dar a mão no sofá da sala e ver séries gravadas. E quero ter tido tempo para me arranjar de manhã (porque dormi horas suficientes) e pôr um rímel para que o meu marido espetacular chegue ao final do dia, olhe para mim e sinta exatamente o mesmo que eu. Somos felizes.
É assim que eu quero viver.  


2 de março de 2012

Vamos Lá Então

Perceber as Mulheres... mas só um bocadinho.


Uma pessoa chega ali sempre na expectativa. As luzes apagam-se e é favor de desligar os telemóveis até que a espera pela atriz/performer/comediante que por acaso é nossa prima direita acaba e ela entra.
Foi a nossa prima direita que vi assim que entrou e sabia que sempre me fez rir pelas suas histórias maiores do que as suas verdadeiras histórias, pelo seu humor esfusiante, pelo seu estilo meio tresloucado e estridente.
Ainda antes de começar estava cheia de preconceitos maiores do que a minha vontade mas passados 5 minutos deixei-me ir e durante duas horas – atiro este número para o ar porque me pareceu rápido demais – ri-me quase até ao ponto da vergonha porque ninguém fica muito bonito a rir sem limite.
O humor é de observação, o foco são as mulheres, os homens, as mulheres e os homens. E gente que é gente identifica-se, quer queira, quer não.
Com uma graça fora de série e um realismo assustador, a nossa prima Marta toca nas sagas do dia-a-dia de um casal, casado ou não, com ou sem filhos e pela sala inteira só se vêm cotoveladas aos maridos em tom de tu és assim, isto está-me sempre a acontecer, é a fotocópia da nossa vida.
Vamos Lá Então Perceber as Mulheres, Mas Só um Bocadinho é absolutamente hilariante, com uma mensagem claríssima e dois objectivos: fazer rir e esvaziar um bocadinho o peso dos dias. Somos todos iguais e giros de se ver.

Esgotado no Cinema São Jorge.
10€

20 de fevereiro de 2012

re:

Há pouca coisa a dizer sobre o que se passa nestes tempos.
Quando alguém entra no elevador, meu vizinho ou num centro comercial e me diz boa tarde, eu respondo.
Quando entro numa loja e me dizem bom dia, eu respondo. Dentro do táxi, respondo; quando sou mandada parar pela polícia, repondo, até à Emel ou às Finanças respondo. Respondo sempre.
Não porque seja absolutamente educada, mas porque é assim. Faz parte dos mínimos dos mínimos.
Posto isto, tornou-se escandalosa a ausência de resposta quando enviamos um pedido de emprego. Obrigada, não estamos interessados, era o que antes recebia no meu email. Agora é silêncio. Será que mandei para o email errado? Será que recebeu?
Explico-o na minha observação sociológica altamente leiga que isto é porque o desespero é tal que a oferta é muita e eles fartaram-se de responder.
Mas se entrarem dez pessoas no elevador e as dez me disserem bom dia, hei-de responder a todos.

10 de fevereiro de 2012

gostava de dizer que te amo

amo-te. 
ouço poucos a dizerem-no por aí, a quem amam. 
amo-te. amo-te. amo-te. 
e coram os que dizem em público, os que ouvem em público. e os raros eu também te amo parecem um bocadinho mais felizes porque o dizem a torto e a direito a quem amam. 
que bom. 
sempre ouvi dizer, achava eu dos entendidos do amor, que não se deve dizer amo-te sem mais nem menos. concordo. deve dizer-se se é sentido. até aqui estamos entendidos. mas não dizer de todo? os pais não dizem aos filhos, os filhos não dizem aos pais, aos avós, aos namorados, aos amigos, aos maridos. somos educados assim e dizemos que gosto muito de ti e que te adoro mas não te amo na realidade. e às vezes está na ponta da língua para dizer a um irmão porque é isso que se sente quando se tem um bom irmão e não se diz porque o pai e a mãe disseram que só nos filmes e quiçá em inglês que parece menos mal. ou a um pai ou uma mãe quando fechamos os olhos e pensamos no que passaram para nos criar agora que temos filhos e vemos o que custa mas é melhor não dizer porque vai parecer estranho. 
e se é fácil dizer a alguns é difícil dizê-lo a outros... 
e guarda-se este amor enorme cá dentro. talvez preso para sempre. 

7 de fevereiro de 2012

Charles


"Qualquer pessoa é capaz de ficar alegre e de bom humor quando está bem vestido."

Era muito pequeno, tinha memória fotográfica, de família "remediada", trabalhou numa fábrica, foi jornalista. Casou, teve 10 filhos, separou-se, Escreveu Oliver Twist e uns quantos mais livros de estilo realista e poético.

Charles Dickens faria hoje 200 anos.

3 de fevereiro de 2012

o amor

o amor é mesmo a melhor coisa do mundo. e que simples e repetitivo é dizer, pensar, viver isto. que simples e tão difícil.
e por ser simples, por ser claro, por ser  óbvio que o verdadeiro amor é fácil é que o torna estranho. longínquo.
queria que o amor entrasse por aí nas portas das casas e nas almas que na ânsia o esperam. queria tanto.

17 de janeiro de 2012

não é normal


Hoje tudo é normal. E é suposto assistirmos a tudo com normalidade. Ou somos tomados como anormais.
É normal ver-se nas notícias condenações à morte em directo, sangue, guerras, pessoas a bater em pessoas, é normal que se deixem pessoas no altar, que se enganem maridos antes do casamento, que mulheres batam em homens e vice-versa. É normal rirmo-nos disto ou nem reagirmos. 
É normal que morra alguém, que não nos é nada mas que é alguém para um amigo e não pensar nesse amigo. É normal saber que alguém tem um problema e não perguntar "o que é que precisas, como é que posso ajudar-te, estás bem?". É normal dizer isso passa e esperar que passe. É normal não querer saber e não pensar mais nisso. 
Envelhece-me falar nos dias de hoje porque é nestes dias que vivo mas nada me parece normal. As pessoas estão transtornadas, estão egoístas, estão enlouquecidas, viradas para dentro, centradas em coisas estranhas, perdidades em nadas e esquecidas. 
Não sei se é deste tempo porque nunca vivi noutro mas questiono-me. Não acredito que a geração anterior à minha fosse Deus na terra, antes pelo contrário porque foi deles que recebemos a educação que hoje nos caracteriza.
Mas será normal?

6 de janeiro de 2012

coisas antigas, coração novo

Houve um dia de promessas. Não eram eternas porque a eternidade parecia quase cómica na altura. Não havia infinito e havia um indefinido. Esse foi um dia de receios, o dia das promessas. Sem a eternidade consciente, as promessas parecem acidentais, mecânicas e involuntárias.
Houve um dia de felicidade que ficou para sempre e o sempre era só ali, tão pequeno, naquele momento.
Havia um riso interior gigante que sobreviveria para o resto da vida só à custa daquele instante.
Não é uma questão de “se” é uma questão de “quando”. E de longe, ao longe houve a primeira felicidade do mundo. Houve um mundo novo, desconhecido, puro. Começou tudo do início. Ergueu-se um novo mar. Inventaram-se as nuvens e os pássaros, inventaram-se as palavras e os silêncios divinos, inventou-se o sonho, o desejo.
Inventou-se o amor e o vento. A brisa. A voz.

acordo ortográfico


Se eu não aderir já é preguiça ou erro crasso? 

5 de janeiro de 2012

o meu amigo facebook

Tinha uma espécie de costume em aqui vir.
Nunca foi um blog temático, dedicado a qualquer especificidade mas gostava dele. Gosto dele. Mas tenho-me esquecido.
E hoje, depois de me nascer uma filha, depois do ano ter avançado uma casa, depois de um verão inteiro, pensei nas saudades que me fazia este amigo e no porquê de o ter atirado para um canto, à espera, desactualizado.
Foi o facebook, por mais estranho que pareça.
O hábito de dizer o que se pensa, partilhar informações, ideias, histórias num ápice foi de repente mais atractivo e de forma tão egoísta deixei-o de parte.
Por outros motivos e noutras alturas já tinha acontecido este desvio, mas desta vez pareceu-me até que o meu ego falou mais alto porque há mais gente no facebook, os comentários são imediatos, falo para os meus amigos, alguns conhecidos e família.
Por não saber, aqui, para quem falo, se falo para alguém... deixei-me levar.
Uma das razões que me fizeram sentir saudades do meu blog na minha vida foi sentir que o facebook, apesar de amigo, é limitado. É que ninguém nos lê se mostramos mais de três linhas, ninguém quer saber de poesia nem de política nem muitas vezes de sentimentos mais profundos ou verdades interiores. E não é suposto.
Mas porque sinto saudades minhas aqui neste espaço, regresso.
E seja o que Deus quiser.

6 de outubro de 2011

injusto é.


Ao longo da vida, passamos por inúmeras injustiças. 
É injusto ser multado quando foram só 5 minutos, é injusto pagar acertos de contas logo agora que veio o subsídio de férias, é injusto não receber aumento porque o ano é de crise.
Mas há coisas, parece-me, que são demais. 
Nunca gostei de ser invejosa, mas olhar para o lado, neste caso, é no mínimo inevitável. 
Prevenar é uma vacina que não faz parte do Programa Nacional de Saúde e que torna as crianças imunes a infecções perigosas como a Hepatite B, Meningite, Difeteria, Tétano, Rubéola, Tosse Convulsa e outras maravilhas que por aí circulam. 
Cabe aos pediatras recomendar, coisa que a maioria faz provavelmente porque tal como os pais pensam que mais mais vale prevenir. 
Enfim, são necessárias 3 doses, cada uma a custar a módica quantia de 70€.
Depois, temos a outra vacina recomendada (pelos pediatras). Chama-se Rotavirús e protege contra a gastroentrite, caganeiras (excuse my french), vómitos, náuseas e amigos, que, diga-se de passagem, são coisas muito pouco agradáveis. Também são precisas 3 doses ao preço de 50 e poucos euros. 
Fazendo as contas, vamos em 360€. Assim, do pé para a mão. 
Até aqui tudo mais ou menos bem porque vozes poderão dizer que "só dá quem quer" e que se não é obrigatório, então não se queixem. 


Mas no nosso colo está um bebé de dois meses que se espirra ou tosse ou se engasga o nosso coração para. Está a possibilidade de surgirem doenças que matam, que causam mossa, que podem de facto ser perigosas e existe, muito mais importante que tudo, o instinto natural de protecção dos nossos filhos.
Para não falar da ida aos médicos, de não ir trabalhar, de chatear tudo e todos à nossa volta porque "o menino está doente".
A Sociedade Portuguesa de Pediatria pediu formalmente ao Ministério da Saúde que fosse considerada a comparticipação da vacina para o rotavírus mas por não ser uma questão emergente (concordo) ainda está em águas de bacalhau. 
A verdade é que depois da constipação, são gastroentrites e outras chatices do género que levam mais pais aos hospitais.  
Não querendo olhar para o lado, lá está, ser invejosa (Deus me perdoe), vejo o Estado e o Ministério da Saúde a comparticipar "coisas" muito mais estranhas. 
Para mim, das duas uma: ou o estado passa a comparticipar estas vacinas ou em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Pediatria e outras entidades que me parece saberem do assunto, chegam à conclusão que os pediatras não devem recomendar a administração destas vacinas.
É inqualificável deixar os pais de mãos atadas com a decisão de vacinar ou não vacinar os seus filhos. Pais que (lá vem a crise outra vez) pura e simplesmente não têm capacidade para comportar este tipo de "luxos". Que ao mais pequeno sinal de alguma destas doenças se sentem menos pais, menos protectores e isso é nada mais nada menos do que injusto.

Notícia de Março de 2010






8 de setembro de 2011

forever estágio

Os tempos estão difíceis, as empresas estão a passar por dificuldades, a crise toca a todos.
A conversa já enjooa e é muleta (gasta) para desculpar incompetência, conveniência e falta de coragem.
As empresas apoiam-se no "os tempos estão difíceis" e o desespero rende-se à ausência de ordenado, à promessa de um futuro promissor, integração numa equipa jovem e dinâmica (seja lá o que isto for) e até se acena a miragem dos quadros.
Os estágios são ou foram pensados para o estudante que, todo contente, em troca de ajudas de custo, tem o primeiro contacto com o universo profissional, aprende (ou não, porque não existem mentores) e depois, com mais ou alguma bagagem parte em busca de receber pelo seu talento, o primeiro ordenado.
A verdade é que hoje, as empresas têm o descaramento de oferecer (sim, dão com um sorriso na cara e como se fosse grande coisa e favor) estágios a profissionais que terminaram a universidade há quase uma década, passaram por dois ou três empregos e muitas vezes têm mais capacidades do que quem emprega.
Não me convencem os argumentos das empresas e preocupa-me o rumo que tudo isto está a tomar. Não se formam profissionais, não se enraizam empregados, não se motivam grupos, não se eleva a qualidade das nossas empresas. Tapam-se buracos e buraquinhos com pessoas e depois despejam-se porque afinal são só estagiários e "havia sempre a possibilidade de serem só 6 meses" e "não foste muito proactivo" e "não vestiste a camisola que nem sequer tem o teu nome".
Os estágios, tão fáceis de distribuir por aí, não trazem nada de bom, prejudicam a possível e real necessidade de recorrer ao subsídio de desemprego, amachucam o ego de profissionais ultra competentes, prejudicam percursos.
São hoje tão banais que é quase estranho quando realmente nos pagam pelo nosso trabalho. E não há princípio pior para um país que a ausência de moeda de troca.
É errado contribuir para uma empresa, seja em momento de crise ou de vacas gordas, em troca de nada.







10 de maio de 2011

Gum Wall


Wall of Fame roi-te de inveja, esta parede tem muito mais graça, tem uma história muito mais gira e é bastante mais nojenta. 
O contexto é estranho mas faz todo o sentido, é que esta parede é ao lado da bilheteira do Market Theater, na baixa de Seattle,  onde o ritual começou em 1993. Os espectadores que se fartavam de esperar pelo começo das peças começaram uma mania de colar uma ou outra pastilha e por cima afixar moedas, os empregados ainda se deram ao trabalho de limpar a parede uma ou duas vezes mas depois, compreensivelmente, fartaram-se. E a moda começou. 
É hoje de tal maneira famosa que está no segundo lugar do top 5 das atracções turísticas com mais concentração de germes do mundo. 
Ficou ainda mais popular quando em 2009 Jennifer Anniston gravou uma das cenas do filme Love Happens mesmo ali, iniciando um estranho ritual de juras de amor e fotografias de casamento junto à parede. 




De longe, a parede é de facto uma obra de arte. De perto... é preciso mastigar o assunto. 

11 de abril de 2011

É urgente amar Portugal.


Virar as costas, encolher os ombros, não ter nada a ver com isto, não querer saber.
Ricos e pobres e milionários e paupérrimos bufam e fecham os olhos e Portugal que se dane, que se safe.
Que saia do buraco quem o cavou e se deite na cama quem a fez.
É urgente amar Portugal. Incondicionalmente.
É urgente querer que Portugal seja melhor, que os valores se mantenham, que o que de péssimo se assiste e se vive na pele, não baste para o fazer cair, para o derrubar.
É urgente amar Portugal e reconhecer a sua doença, querer a sua cura.
É urgente, antes de fazer mais, querer mais. Continuar a sonhar pelo país que se esconde atrás do barulho e reconhecer-lhe o valor que tem.
É urgente abrir os olhos, respirar fundo e ir à luta. Como se luta por um irmão. Acreditando nele, querendo o seu sucesso, amando-o.
É urgente.
É urgente amar Portugal. 

17 de março de 2011

vai chamar-se Leonor

Há oito anos, quando este blog começou escrevia sobre o que era actual na minha vida.
E hoje, é o que faço.
Dei por mim num novo mundo em que se fala a medo sobre o que vai acontecer.
Não vou tornar-me numa daquelas mães que não consegue seguir uma linha de raciocínio com amigas que não são mães e não têm filhos e ainda há namorados e casos e problemas. Não vou ser uma mãe que não sai à rua e não deixa os filhos em casa dos pais ou dos sogros e recusa jantares atrás de jantares e se perde da actualidade do mundo e o mundo passa a ser o que se passa na actualidade da sua casa.
Vou continuar magra e gira e interessante e as minhas conversas vão cativar os meus amigos. Vou ter tempo para cinema, sushi às sextas-feiras, passeios grandes com o cão, para visitar os pais, os tios, os primos, os amigos, para dormir até tarde, comprar o pequeno almoço ao marido e fazer sumo de laranja natural. Vou estar com boa cara, atenta aos problemas que me rodeiam, combinar lanches cá em casa, e ceias e jantares para dez. Vou viajar à mesma, vou fazer férias grandes, vou passar fins-de-semana fora. Vou continuar a comprar-me roupa e maquilhagem, e mimos.
Vou estar disponível, engraçada, interessante, culta, posta por ordem, sexy.
Sei lá o que vou ser, como vai ser.
Sei que amo o meu marido, que não vivo sem os meus amigos, que a família é tudo. Sei que vai chamar-se Leonor.
O resto, logo se vê.

28 de fevereiro de 2011

os novos chulos

Saiu um artigo numa revista de renome internacional com presença em Portugal.
A secção gay, já habitual e quanto a isso, nada contra, esta semana apresenta a Sauna Polo 56, um espaço para gays e lésbicas onde se pode usufruir de banhos turcos e saunas ou para ser inteiramente fiel "um espaço Gay aberto a Lésbicas, Bissexuais, Travestis/Transexuais, Swingers, Hetero Friendly e Deficientes onde poderão conviver sem discriminação". Até aqui, parecia-me quase inofensivo. Sei, porque sou crescidinha,  o que se faz, há séculos, neste tipo de espaço. 
A verdade é que à entrada, por 13€, se oferecem duas toalhas brancas, chinelos, dois preservativos e gel lubrificante. Pelo espaço há buracos para se praticar sexo oral com desconhecidos e outros que servem para expiar quem faz sexo noutras salas. Há ainda um espaço com uma televisão gigante onde se vêm, naturalmente, filmes pornográficos. 
Nas regras da casa, diz-se que é proibida a prática de prostituição. 
Estou confusa. A casa recebe dinheiro para que as pessoas se dêem gratuitamente.
Não me considerando puritana, confesso a minha indecisão. 
Será este o tipo de espaço que muitos esperavam e que muitos já frequentam para exprimirem a sua liberdade sexual, ou são estes os novos chulos que promovem extremos sem os quais podemos muito bem viver?

18 de fevereiro de 2011

eu e tu

Eu e tu meu amor.
No nosso segredo,
no mistério que somos.
Debaixo de água,
Às escuras,
Na toca
O nosso mundo.
Eu e tu meu amor.
Por dentro um do outro
Escondidos
Envolvidos
Complicados
Misturados em nós
e em nós.
Eu e tu.
Aos gritos, aflitos
Nervosos
Zangados
Deitados na paz
De olhos fechados
Em risos
Parvos
Cansados
Descontrolados.
Eu e tu meu amor
Num para sempre
Que nos faz gracejar
Porque o gozamos
Imaginamos
E somos velhos
Casmurros
Obtusos.
E somos lindos
Porque somos eu
Porque somos tu
Somos nós.
Eu e tu meu amor. 

17 de dezembro de 2010

coisas

É tão bom quando o senhor do autocarro nos deixa entrar depois da paragem.
Hoje isso não me aconteceu mas a um rapaz. Estava tão feliz que me pareceu que o gesto do motorista podia bem ter mudado o seu dia inteiro.
Depois aconteceu uma coisa que não percebi. O rapaz arrotou e assassinou a minha visão poética da vida.

2 de dezembro de 2010

A partir de que momento é que um contratempo se torna uma injustiça?

11 de novembro de 2010

Adeus a si mesmo

Há coisas que nos entristecem sem sabermos exactamente porquê e até sentimos vergonha de as sentir tanto.

O senhor do Adeus, e tenho a certeza que não se importava que o tratasse assim, era meu amigo. Por mais estranho que isso pareça e sem nunca ter falado com ele.
Gostava de lhe dizer adeus e ficava triste se  a pessoa que estava comigo não o fazia, sentia-me ofendida por dentro. Ele era uma esperança estranha que sempre tive na bondade das pessoas.

No Saldanha, no Restelo e até a semana passada o vi na Rua da Escola Politécnica e sorri sem ele me ver.
Lisboa fica mais triste, nunca ninguém vai ser como aquele homem, que se entregou a tanta gente, correndo riscos, sendo ofendido, gozado. Nunca ninguém disse tantos "adeus".

Fico tão feliz por ter sempre respondido. Gostava que ele soubesse que foi importante na minha vida. À minha maneira.

4 de novembro de 2010

Já chega.
Disse como se tivesse o poder de controlar o tempo.
(ouvem-se risos)

14 de outubro de 2010

e se

E se.
E se tivesse sido antes assim, desta maneira, daquela forma, uns segundos antes, dois minutos depois.
Passamos metade da nossa vida a questionar e a responder a "e se's".
E não são daqueles que controlamos. E se eu fosse fazer uma viagem, e se eu arriscasse mais, e se eu comesse um croissant e se eu trabalhasse mais, ganhasse mais dinheiro.
Os verdadeiros "e se's" são os que se perdem do controlo, os que nascem de um minuto para o outro sem dar tempo para pensar. Fogem-nos das mãos e rebentam.
Já não dá. Já não há nada a fazer. Encolhe os braços, chora um bocadinho, continua a andar. Esquece. Avança. Não penses nisso.
Mas esses "e se's" são os mais cruéis, os que não deixam esquecer, os que se enraízam na alma e crescem até que alguma coisa boa aconteça.
E se alguma coisa boa acontecesse?

13 de outubro de 2010

às vezes

Às vezes esqueço-me de respirar.
Será que é só a mim que acontece?

6 de outubro de 2010

Não interessa quanto tempo há.
Se o tempo se demora, tanto faz, 
e se ele se apressa, eu corro mais.

23 de julho de 2010

uma paz

O que escrevemos tem a ver com a forma como nos sentimos nesse dia.
Mesmo quando a intenção é escrever sobre flores, sonhos ou músicas e só pensamos em chuva, o que há a fazer é encolher os ombros, bufar e esperar que daqui a nada as coisas mudem.
Talvez seja o que mais se assemelha à vida real, a escrita. Porque há dias em que não há nada para dizer, há dias em que só apetece dançar, correr por aí, amar sem limites, fugir, sair dali ou daqui ou de todos os lugares.
E também as letras cantam e saltam e vibram e choram compulsivamente.
Sou feita de letras.
Da cabeça aos pés.
E parece que o meu corpo inteiro pensa. Se preenche com palavras.
E parece-me sempre meio tonto que quando há dias que acordo mais feliz que o normal, rabisque umas coisas e escreva o meu nome de casada cinco vezes seguidas ou cubos infantis, palhaços e mais dois ou três bonecos que inocentemente sinto que sei desenhar.
E há dias em que em tristeza nocturna ou matinal escreva mais do que devia.
Lembro-me do meu primeiro poema, era profundo, tão profundo quanto uma menina de 14 anos consegue ser. O enredo era complexo e extremamente invulgar para aquela idade. Falava de um rapaz por quem me tinha apaixonado e era capaz de dar a vida. De um amor não correspondido; original lá está; e de outra mulher, um ano mais velha do que eu, por quem ele se apaixonara.
Foram as 4 linhas mais intensas da minha vida, tão intensas que nunca mais as esqueci.
A partir daí e por achar que a poesia eram rimas, fui decorando palavras que rimavam com outras palavras e que raramente faziam sentido juntas.
Depois, esqueci-me de tudo e deixei de procurar técnica, método.
Deixei de pensar nisso.
E nunca encontrei a perfeição, continuo a olhar para palavras de outros e a pensar que quem me dera ter escrito aquilo.
Mas encontrei talvez o que todos os poetas anseiam a vida inteira, lutam, desejam, questionam.
Uma paz.

16 de julho de 2010

tiques

Adoro tiques. 
Acho que é um tique que tenho. 
De uma maneira nada irónica gosto de pessoas com deficiências na voz, gagos em primeiro lugar, pessoas que trocam os "r" pelos "g", só não gosto de sopinhas de massa. Adoro pessoas que têm tiques de mãos, as que fungam, coçam o nariz, as que roncam quando se riem, as que levantam várias vezes as sobrancelhas,  piscam muitas vezes os olhos, abanam a cabeça.
E depois há aqueles que eu chamo de tiques sociais. E esses são talvez os meus preferidos. 
Vê-se muito, basta estar mais atento. 
Um dos meus preferidos é o síndrome de "vem aí o autocarro". 
Agora há daqueles ecrãs que determinam (com um intervalo sensível de 50 minutos) quanto tempo falta para o autocarro  chegar.
O tique social neste caso, só é activado  se esse tempo for ultrapassado e acho que faz todo o sentido, uma vez que todos os tiques são maioritariamente nervosos.
As pessoas ficam estáticas, nervosas, ansiosas, bufam e o único movimento que fazem é o de "espreitar".  
E ao longe, lá vem ele, ainda com dezenas de sinais para ultrapassar mas as pessoas entram num ritual que me surpreende e quase me assusta. Mas que é tão divertido.
Mexem-se, arrumam coisas na carteira, olham umas para as outras, andam de um lado para o outro, tossem, espirram, mas não como se se estivessem a preparar, parece um pouco um sinal emitido por golfinhos ou pássaros ou até gorilas que comunicam histericamente quando aparece um predador, uma fêmea, um estranho.
Depois abrem-se as portas e cada um entra no seu estado normal.