Vejo-me ao meu lado… não como um espelho de reflexo figuradamente real, em que sou uns dias eu subtil, noutros descaradamente aquilo que queria ser. Não como essa imagem, esse simulacro de mim.
Vejo-me ao meu lado como um estranho da rua, como um tempo frio, ou demasiadamente abafado, irrespirável; como uma árvore presa em estacas de canteiro, que nunca pode crescer, obrigada a um caminho vertical ordenado que não é o seu.
Olho-me de longe, e aceno, rio-me, gozo, choro, desespero.
Vejo-me passar, longe de mim, como um estranho da rua.
(…prometo cumprimentar-me da próxima vez que me vir… mas deixo-me passar, como sempre…)
Concluo que sou sempre a pessoa ao meu lado, nunca eu.
Peço, entre as esquinas das ruas em que me perco de vista, a coragem de parar para olhar para trás e me ver, bruscamente, perder o medo do abismo que o Homem pode ser, simplesmente por ser Homem; o pânico de encontrar a certeza do buraco escuro, cavado, infindável, da mente, da alma, da essência.
Desenho meticulosamente em mim o mapa das minhas passagens para me encontrar, e quando de perto assisto à possibilidade de pisar os mesmos passos, de regressar às mesmas ruas; corro. Sem nunca parar; pelas saídas secretas que arquitectei, como escapatória; pois tenho medo de mim, e do estranho da rua…
2 comentários:
O texto, esplêndido, faz-me lembrar o poema de Fernando Pessoa.
"Eu não sou eu nem sou o outro, sou pilar de ponte de tédio, que vai de mim para o outro."
Um abraço. Augusto
Mas este estranho não é estranho. Gostei*
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