12 de outubro de 2003

Escrever porque-não-sei-quê...

É estranho quando se escreve diariamente... Mais estranho é quando passa a ser público aquilo que sentimos. Ou aquilo que fingimos sentir.
Começa a irritar-me esta nova moda de escrever, esta nova mania de se ser intelectual, de ser "estranho", "esquisito". Está em alta este estilo alhealhado, descontraído, distraído.
Se eu disse coisas do género:
"Estou neste mar ensanguentado em que o telefone não desenrola de si mesmo, num fio que é a teia da minha alma, onde crescem partes separadas do meus corpo mas que me pertencem, como tentáculos, até ao gritar do toque desse fio inimigo que me tece, desse desenrolar de ideas..., etc, etc, etc"
Se eu mostrar este ar de louca, intoxicada, chamam-me génio, poeta...
A realidade é tão simples, tão mais bela que todas as palavras.
Irrita-me mesmo!
Uau! Sou diferente, sei palavras esquisitas, sei mostrar que vejo outros mundos, que tenho visões diferentes!
Não importa! Não interessa! As palavras são só palavras e nada significam para quem não as sente, para quem não as experimenta.
Qual é a beleza do arco-íris se nunca for visto, do amor, se não for experimentado? A tristeza da morte se não for sentida? E qual a beleza da vida, se não for vivida?
Somos o que vivemos, nunca o que escrevemos, ou dizemos.

Amanhã, vou contradizer-me.