23 de outubro de 2003

Ama-me mas não mo digas...

Todos os filmes falam nisso, as músicas retratam-no, e aprendemos que a palavra “amo-te” é a mais desejada e a mais proibida…
E amamos. De facto, amamos. Mas não o dizemos. Temos medo (?).
O português não ajuda, a nossa língua é um obstáculo difícil de contornar e é preciso muito cuidado com as palavras.
A vontade de o dizer surge no minuto em que nos apercebemos que o sentimos.
“Eu amo-te.”
É impressionante como ouvir de fora, nos parece piroso, requintado, estranho; mas para nós, é simplesmente perfeito, correcto, irrepreensível.
Quem nos dera poder dizer, a toda a hora!
Mas guardamo-nos. Até ao momento certo, que pode nunca surgir. Guardamos a palavra interdita numa ansiedade tremenda, confiando no sinal que nunca mais surge. E ambicionamos tanto que seja o outro o primeiro a dizê-la…
Queremos sentir-nos amados e queremos amar. Mas as palavras atrasam os sentimentos, o próprio amor, e apressam o desassossego.
Mas o amor é isso mesmo, um primoroso desassossego…