21 de abril de 2010

avô

Esqueci-me da sua cara.
Desculpe-me.
Toda a minha vida evitei ver os seus vídeos, as filmagens, porque aguentava as fotografias, consigo estático, mas os vídeos faziam-no parecer real. Nunca os queria ver.
E então esqueci-me de si porque as imagens que me acompanhavam foram sempre as mesmas. Perdi as suas expressões, as suas rugas e os seus inúmeros tiques.
Até perdi as suas parecenças.
Perdi a sua voz nasalada e os seus gestos com as mãos. Perdi os losangos dos seus pullovers.
Fingi até hoje que me lembrava como se tivesse sido ontem. E foi até hoje que vim a perde-lo.
Hoje recuperei um bocadinho de nada, o que consegui porque a maior contradição de todas é custar-me tanto vê-lo vivo.

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