6 de maio de 2010

estou aqui

Dei por mim como sou, hoje.

De repente, passaram anos de mim. No vidro de uma loja de rua, vi-me. E apesar de me ver todos os dias foi aí que a minha imagem me pareceu mais real e o meu reflexo mais exacto.

Deu-me vontade de rir e as pessoas achavam-me louca sem eu querer saber. Riam-se também de mim, pensei.

De facto tem graça.

Encontrei-me numa montra quando diariamente confronto o melhor e o pior de mim.

E não era a minha imagem ali, era muito mais do que isso, porque a imagem nem interessa.

Estou aqui, com estes anos, com estas coisas, com esta família, com este marido, com esta casa, com estes amigos, com este trabalho, com estas férias, com este ordenado, com esta vida, com estas doenças, com esta saúde.

Foi como uma pedra em cima.

Apercebi-me de mim num ápice e a uma velocidade incompreensível.

Porquê agora? E as pessoas continuavam a passar enquanto a montra era a minha vida. Não me deixem perder esta oportunidade de me ver. Nem com um empurrão, nem me peçam lume ou as horas. Não me chateiem.

E quase em choro tive que sair dali. Parecia que me ia perder para sempre e que aquela seria a última oportunidade de me ver.

Espero encontrar-me outra vez, naquela rua ou noutra qualquer.


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