18 de fevereiro de 2005

Disitinção

Prémio Jerusalém 2005 para Lobo Antunes pelo conjunto da sua obra literária.
(…) Por medo do escuro fui povoando a minha insónia de personagens reais e inventadas, sentando-as na borda da cama para falarem comigo e afugentarem a morte com o dorso da mão, fantasmas familiares que me acompanham desde que me conheço e iluminam os romances que escrevi dado que não faço literatura, faço mitologia e, admitindo que a inocência tem circunstâncias atenuantes, nenhuma outra forma de arte me interessa.
(…) Preferindo companheiros a amigos e gostando mais de escrever que explicar-me, dicidi, para melhor falar, nunca mais responder em português a uma pergunta que seja, venha da televisão, dos jornais ou da rádio: deixo esse trabalho aos literatos que ficam a conversar no rés-do-chão os seus diálogos de viúvas enquanto eu assobio no escuro, no andar de cima, à procura de um quarto iluminado.
O que terão de mim daqui para a frente será apenas, se quiserem calar-se para ouvir, o eco atenuado dos meus passos.

Onde o artista se despede do respeitável público, in Livro de Crónicas

1 comentário:

augustoM disse...

Lobo Antunes, possivelmente, o escritor mais incompreendido da actualidade.
Um abraço. Augusto