20 de fevereiro de 2005

Sándor Márai

(1900-89)
Em noite de alegórica não-reflexão, encontro o subterfúgio perfeito.
Similarmente, nenhum exercício de raciocino me agradaria. A redenção, porém, o seu princípio, a verdadeira génese, entristece-me mais, como um abandono que aguarda perene uma explicação, o seu vislumbre, ou simplesmente um frágil reflexo, que, conforme a amarelada luz de presença no quarto de uma criança, adormeceria o corpo assustado da minha sensibilidade com um ligeiro sopro quente de bem-estar. As Velas Ardem até ao Fim, o rompimento do curso, que distraído principiei a leitura, desprezando o interior da sua badana, enfraquece, agora, todos os meus sentidos. A comovente obra quase se me consome a partir do interior; com a força da psicologia das suas personagens, na penetrante reflexão sobre a natureza humana, na insuportável gravidade de uma amizade inexcedível, num jantar à luz das velas. O húngaro Márai, da estirpe dos escritores reflexivos, cuja luz de presença se lhe havia apagado, viveu, depois da morte do seu filho e da sua mulher, em solidão absoluta, inexpressivo. Em 1989 na Califórnia, exprime, com um tiro na cabeça…que, hoje evoco, sem saber significar, sem o saber exprimir.

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