26 de abril de 2005

Ascenso

O recontro que não chegou senti atravessar a sala, seguindo o corredor em frente, entrando na porta à esquerda e por fim agitando as folhas brancas em cima da secretária ao fundo do quarto; que vibraram por alguns segundos num movimento sinuoso que se suspendeu por um instante, secreto, que se fecha agora, caindo. E sofro o prenúncio do frémito no agarrar da caneta, ao ver o tremer da mão, no sentir do cessar do momento que preciso escrever, que sinto aproximar, aqui sentado ao longe, imaginando, sofrendo, ponderando o chegar de qualquer coisa que não basta, e que se perde em definitivo com o eco dos meus passos nas folhas de papel escritas à mão que agora caiem, na breve reminiscência inscrita no papel pisado. Deito-me no chão, oiço o barulho que acompanha o movimento do meu corpo, e olho o tecto sentindo-me fisicamente dissolver. A aproximação não ultrapassará o estado intermédio da nossa condição, nada bastará, nada será definitivamente completo. Mas sentindo o eco destas palavras, que alguém grita continuamente, ergo o corpo, sentando-me de novo para reescrever: “haverá Deus e um Deus só”.

6 comentários:

Andre_Ferreira disse...

as folhas brancas são um desafio à mão que empunha a caneta! Descreves essa necessidade de escrever muito bem nestas palavras.
Parabéns

Um abraço

André

hfm disse...

Obrigada pela visita e pela citação que lá deixou. Gosto de vir aqui e destes textos onde a palavra é sempre a força.

Catarina Santiago Costa disse...

Como compreendo as mãos que tremem descontrolada e delirantemente nesse amplexo ansioso do papel e caneta...
Gostei muito muito!
Beijos e obrigada

r.e. disse...

obrigado pela visita. gostei de aqui vir também. voltarei para conhecer melhor este espaço, que pelo bom gosto e sobriedade já me impressionou. um abraço. J.

BlueShell disse...

Gostei. Não parar...é o segredo!
Jinho, BShell

Catarina Bettencourt disse...

E qd o reencontro passa-nos ao lado, há que correr atrás dele...
bjs***