22 de novembro de 2006

sem querer sem ver

Não olhes para mim, incomoda-me.
Os teus olhos seguem-me e eu não gosto. Não gosto de saber que conheces os meus movimentos e os meus gestos.
E perguntas porque só sei falar de amor.
Porque só falas de amor?
Não conheço mais nada. Conheço as viagens e pouco do mundo, conheço a família, a maravilha que é a natureza e as flores, a tristeza das ruas quando chove, o milagre de fazer nascer alguém, o mar.
Prefiro o amor, às vezes prefiro a ausência do amor.
Mas não me olhes assim. Incomoda-me.
Incomoda-me que compreendas o que sinto, me vejas como sou. Deixa-me continuar a fingir o nada dentro de mim. Deixa-me caminhar numa solidão que é só minha, porque a solidão quase nunca se vive a dois, a não ser quando se ama.
Porque só falas de amor? Procura outras coisas.
O que procuro está dentro de mim e essa tem que ser a melhor viagem.
Em ti, vejo uma maneira de me encontrar, mesmo que desista a meio, mesmo que me perca e nem tu me encontres. Só posso falar do amor, que pouco conheço.
Incomoda-me que olhes para mim. Sou livre e o teu olhar prende-me; numa prisão que não conheço. Não cometi nenhum crime. Desvia esse olhar. Vê outros e vê o mundo.
Eu olho o mundo, olho a vida. Estás no entretanto. Não posso evitar se te encontro pelo caminho. Não posso evitar ver-te, mesmo que mo peças mil vezes.
Talvez se procurar outra passagem e me desvie do teu olhar.
Talvez.

Sem comentários: