17 de fevereiro de 2008

ainda há tempo

(desculpa ter quer escrever isto, sei que não gostas que no meu espaço fale de mim, que seja eu, que as palavras sejam pessoais, que fiquem registados os sentimentos, sei que preferes que te fale ao ouvido e que te diga só a ti, sei que compreendes no entanto que há palavras impossíveis de estarem presas, que a poesia quando consegue ser poesia, é assim mesmo, livre)

Quero ver um sorriso
está tudo bem
achas mesmo que vais morrer?
Ainda quero ter filhos, muitos filhos, alguns filhos,
um filho.
confirmar amores
o amor.
Ainda quero ser velha,
não muito velha,
só velha. Ou velhinha.
Nada se passa, vais ver
Está bem, está bem.
É só no tempo, esta verdade
mais uma vez o tempo
muito tempo, algum tempo
o tempo certo.
Esperar. Rezar. Fazer acontecer por dentro
ter fé. Acreditar.
Qualquer coisa sem sentido
que invente sentido no tempo
e na espera
e na verdade,
Está tudo bem, vais ver
achas mesmo que vais morrer?
Tudo se encontra em dois lados
Em dois momentos
hipóteses
Não chores
dá tempo ao tempo
o tempo salva e decide
Cria e rouba
onde está o sol
tenho que ir para a sombra
tenho medo da luz, do calor
não te rias
já não é o mesmo sol
nunca será o mesmo sol.
Vou viver na sombra.
à sombra.
na minha própria luz
se a encontrar.
quando a encontrar.

(ainda quero ter um filho
ainda quero confirmar o amor
ainda quero ser velhinha
não, não acho que vá morrer).
Vai só ficar no tempo,
na espera, na dúvida
um mal cortado de raiz
uma memória estranha,
um tempo incerto
e nas minhas costas: a cicatriz.

1 comentário:

Davi Reis disse...

Cara Maria Ana, está convidada para o lançamento do meu primeiro livro de poesia:

http://cadernodecorda.blogspot.com/2008/03/29-de-maro-18-horas-apresentao-do.html

Um Beijinho