27 de março de 2008

Era uma viagem que se prometera curta
ir e voltar
só uns minutos
para fazer um recado
E fui descendo as ruas
mesmo depois da tarefa cumprida
Tentei explicar a estranha dor que senti
quando cheguei a casa
horas depois
e não fui capaz.
Ó gente da minha terra
acompanhava o meu passeio
e o passeio dos outros
que estavam tão longe de mim
Vi um homem que pedia moedas
em troca de nada.
em troca de estar ali parado
esquálido. Frio.
Vi um outro que de graça
se deixava ficar parado
na tristeza
que o acompanhava há tempo demais.
Apeteceu-me abraça-lo por estar tão velho
e por ser tão triste.
Desci mais pelas ruas
e fui recebendo essa tristeza
e fui percebendo essa tristeza
que também eu trago em mim.
De um lado da rua vi uma loja
Que na timidez do seu tamanho
Minúsculo
vazia
Vendia luvas velhas
E luvas lindas
Que já ninguém quer comprar
Do outro lado vi uma loja
Que na extravagância do seu tamanho
Minúsculo
cheia
vendia jóias para o umbigo
para a barriga
e para o resto do corpo
A essa hora já não ouvia mais música nenhuma
embora tentasse
Andei mais
e depois voltei para trás
o caminho era a subir agora
e mesmo assim não me custou
Vi as retrosarias
vi as pessoas encostadas ao chão
e aos quadros
que eram iguais aos quadros dos vizinhos
Vi os turistas
no sítio dos turistas
Vi os cães dos homens que cospem fogo
para os turistas
vi as cervejas em cima das mesas
e a essa hora já sentia os pés
e a alma.
Tudo pesado e triste
Demasiada beleza.

fotografia de isaurinda brissos




















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