10 de abril de 2008

reality show

Tenho tentado ficar indiferente, em silêncio. Cansam-me as suposições, a falsa compreensão, a tentativa de entender aquilo que me parece humanamente incompreensível.

A história da professora e o telemóvel invadiu a nossa realidade embora todos já calculássemos (da maneira que andam as coisas, só podia). A professora podia ter reagido, a aluna reagiu perante uma professora estática. E etc..
Hoje, outra notícia. 6 raparigas raptam uma outra, levam-na para casa, fecham-na lá dentro e contam com a vigilante ajuda de dois rapazes cúmplices da cena.
Batem-lhe. Ela não reage. Pudera, eram seis... O filme dura uns 5 minutos, angustiantes, devo dizer.
O objectivo era colocar online, para todos os amiguinhos verem. O rapaz que filmou a professora a ser enxovalhada também pôs o seu filme caseiro no YouTube. Ouvi algures num comentário televisivo o nome "realizador do filme" para se referir ao menino.
Questiono-me perante esta necessidade crescente de se ser reconhecido de uma forma totalmente obcura, sinistra, contrária. Questiono-me também perante a internet. Reconheço o meio, e a razão nos suspiros que tentam desculpar os dias de hoje. "antes fazia-se, mas às escondidas". Não me interessa.
A TVI, canal que muitas vezes me choca pela incompetência, incita os telespectadores a enviarem filmes. Não interessa bem o tema, enviem tudo o que puderem, se virem um assalto, uma senhora a cair na rua, um prédio prestes a ruir, seis raparigas a baterem numa outra, uma professora a receber impávida e serena gritos de uma miúda vinte anos mais nova do que ela. Não interessa, enviem ttudo o que houver para chocar, para envergonhar e para alertar ainda mais quem ainda não viu o suficiente.

Não gosto de viver neste reality show. A violência já de si incompreensível que vejo como a desgraça dos outros está a fazer parte das nossas vidas. Podemos escolher ver ou não, bem sei, podemos ignorar, gozar e rirmo-nos com tanta tristeza, mas pergunto-me onde está o fim para todo este programa? Qual o objectivo? E o que se passa com as pessoas?

Que necessidade estranha é esta de chegar mais perto do mundo, online? E chegar não-sei-onde assim? Parece-me tanta miséria. A violência e acima de tudo a necessidade de a mostrar.


Falei sobre isto. Pronto.


Agora posso respirar fundo e desligar-me.









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