4 de junho de 2008

De nihilo nihil*

Que seja. que seja a vida assim. que seja a alma a única coisa a preservar, que seja o medo a razão pelo que o fazemos, que sejam as regras e as manias e as imposições. que seja o medo outra vez e o medo outra vez. que seja a vontade de um lugar que aqui não existe e que fingimos que existe, que seja o desejo e a frustração porque aqui não estava, aqui não vi, aqui não pude, que seja a vontade de estar e ver e poder noutro lugar, que seja a compaixão pelos outros, que seja pelos que nunca merecem e pelos que fazem por merecer, que seja pelo expoente máximo do egoísmo, eu quero ir bem, eu quero encontrar, eu quero estar ali, eu quero o descanso. que seja pelo eu eu eu! que é o eu eu eu! aqui e lá e sempre. que seja pela coragem da verdade que estamos aqui pelo eu eu eu! e que pensamos em nós quando vamos. que seja pela promessa da plenitude pelo céu azul e pelos que já lá estão. que seja pela promessa do amor eterno e pela esperança de um amor eterno, que seja pela esperança de quase tudo, da verdade e da felicidade e da paz. que seja pelos filhos e pelos netos e avós e primos e pais e irmãos e toda a gente que também quer ir e quer encontrar-nos e ver-nos, que seja pela ilusão de os encontrar. que seja pela infância que nos deixou ali naquele quarto cheio só de brinquedos e sem vida a lamentar, sem arrependimentos e sem vergonhas e sem faltas, que seja pela criança. que seja pela opção de escolher ir e antes imaginar como é. que seja pela liberdade de o fazer. é azul e verde e tem água e só há sol, animais e frutas, todos são felizes saudáveis e todos se amam e todos se identificam porque cada um tem uma identidade. que seja pela identidade que aqui não foi. que seja pela ilusão totalmente estúpida que será como queremos que seja, que existe. que seja porque sim. porque eu quero e porque aqui ainda posso.

*Nada vem do nada

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