16 de julho de 2010

tiques

Adoro tiques. 
Acho que é um tique que tenho. 
De uma maneira nada irónica gosto de pessoas com deficiências na voz, gagos em primeiro lugar, pessoas que trocam os "r" pelos "g", só não gosto de sopinhas de massa. Adoro pessoas que têm tiques de mãos, as que fungam, coçam o nariz, as que roncam quando se riem, as que levantam várias vezes as sobrancelhas,  piscam muitas vezes os olhos, abanam a cabeça.
E depois há aqueles que eu chamo de tiques sociais. E esses são talvez os meus preferidos. 
Vê-se muito, basta estar mais atento. 
Um dos meus preferidos é o síndrome de "vem aí o autocarro". 
Agora há daqueles ecrãs que determinam (com um intervalo sensível de 50 minutos) quanto tempo falta para o autocarro  chegar.
O tique social neste caso, só é activado  se esse tempo for ultrapassado e acho que faz todo o sentido, uma vez que todos os tiques são maioritariamente nervosos.
As pessoas ficam estáticas, nervosas, ansiosas, bufam e o único movimento que fazem é o de "espreitar".  
E ao longe, lá vem ele, ainda com dezenas de sinais para ultrapassar mas as pessoas entram num ritual que me surpreende e quase me assusta. Mas que é tão divertido.
Mexem-se, arrumam coisas na carteira, olham umas para as outras, andam de um lado para o outro, tossem, espirram, mas não como se se estivessem a preparar, parece um pouco um sinal emitido por golfinhos ou pássaros ou até gorilas que comunicam histericamente quando aparece um predador, uma fêmea, um estranho.
Depois abrem-se as portas e cada um entra no seu estado normal.

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