14 de novembro de 2003

Pai Natal Giggolo

A exímia e voraz capacidade do Homem de transformar tudo o que produz em negócio não deixa de me surpreender…essa insana e sôfrega necessidade de enriquecer cada vez mais e mais depressa, leva-nos a cometer muitos excessos.
Há um mês que vejo o Pai Natal, bonito e sorridente, nas escadarias dum centro comercial a incentivar-me com o olhar a aderir ao maravilhoso mundo do consumismo.
Confesso que estranhei ao ver o Pai Natal e a folclórica iluminação temática alusiva ao natal em pleno mês de Outubro !! Mas aos poucos fui confirmando aquilo que já há muito suspeitava....De acordo com fontes de informação não oficiais, o Pai Natal após anos e anos a distribuir brinquedos ás crianças no seu trenó voador sem nunca ser remunerado, terá abandonado a vida pura e caridosa que levava para poder gozar de uma rica reforma, cheia de regalias. Aparentemente o outrora dócil e bondoso velhinho, vendeu a sua enorme e super eficiente fábrica de brinquedos por uma quantia astronómica a um grupo de mega empresas multi-nacionais que agora os vende, e a preços altos. O Pai Natal terá também vendido o seu trenó e, no seu lugar comprou um Jeep Grand Cherokee, modificou a sua imagem cortando a característica e mítica barba branca, ostentando agora orgulhosamente um barbeado perfeito e regado com after-shave Calvin Klein, abandonou também o típico fato vermelho e branco e as botas altas, para agora vestir um impecável e sóbrio blazer de Inverno Armani e uns não menos sóbrios e impecáveis mocassins italianos. Segundo testemunhos fidedignos, todos os duendes foram despedidos da fábrica de brinquedos, sendo para o seu lugar contratada mão de obra imigrante sub-nutrida e mal paga; o Pai Natal tornou-se solitário e engordou perigosamente devido á sua vida inactiva e ociosa; as renas foram sobrealimentadas e tornaram-se gordas e moles, perdendo a mágica capacidade de voar, e acabaram por morrer deprimidas e escuras. O Pai Natal vendeu-se….. prostituíu-se.