23 de setembro de 2004

Tenho medo do escuro...

À noite as memórias são mais memórias, as recordações mais recordações… E chora-se. Sem saber.
O melancólico escuro consome-nos a alma e apodera-se da luz interior, e o pensamento frenético remete-nos até ao impensável.
À noite somos o que vivemos, o que sentimos, o que choramos. A tristeza é mais triste, a saudade é maior, nós somos mais nós, e o pior do dia, da vida, recai no avanço das horas, quando nada vemos senão o passado e a fortaleza dos sentimentos; quando nada vemos senão o escuro, e a nossa essência.
Custa adormecer quando se conhece de cor o que nos vai na alma, o que nos faz chorar, arrepender, desejar, fugir, não fugir, recuar, avançar, recear e querer.
O sol, a luz, mantêm-nos enigmaticamente acordados e tantas vezes, ausentes de reflexão. Felizes, desatentos, levianos, descuidados; acumulando em si tudo aquilo que evitamos, declarando barbaramente a verdade, quando o sol se põe e os olhos se fecham.

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