3 de dezembro de 2004

escrito na espera

Esta noite podia esperar. Talvez devesse ler, reler. Ocupar o tempo para sentir. Entender experiências, descobrir-me através de alguém que viveu, que viu morrer, que concluiu. Esgotar idealidades, ocupar o espírito com ideias de outros, perturbar-me com elas e ficar simplesmente a ouvi-las, penetrante. Ficar em suspenso, na dúvida, no aperto de palavras sábias que atravessam espinhosas a segurança do desconhecimento lânguido. Ser observador viandante, contactar com os mortos, completos, reclusos da certeza consumada, impor a aproximação e não esperar como espero. E como espero e me demoro em nada, na escuridão comigo, no isolamento estéril, no papel que leu, na escrita que regenera. E como o movimento é circular, e sou leitura e não escrita langorosa que tremelica mas que oscila no difícil recobro da demora.

5 comentários:

Marta disse...

Bom fim de semana na espera, beijo

BlueShell disse...

E na espera...cresces, amadureces...te auto-descobres...te pensas, e o sentir...é, no fundo, tudo isso. Tudo de bom, jinhos a vós todos e a ti. BS

A Guardadora de Gansos disse...

perturbante... beijinhos grandes*

mfc disse...

Parar para pensar é criativo e enriquecedor.

SweetSerenity disse...

Quero-te agradecer poe me teres aconselhado o livro :)
E aproveito para comentar o texto.
A espera pode ser vista antes como meditação ou tornada em tal. Todo o tempo é algo e quando pensas que não fazes nada já o estás a reconhecer e isso já é algo muito enriquecedor. Através do reconhecimento podes tomar atitudes que determinarão alguma coisa. Quando pensas que o nada te invade, já meditas sobre esse aspecto. É sempre bom um tempo só com nós próprios, um tempo "à espera", se assim o quisermos chamar.
Deixo aqui um pedacinho da minha opinião. Este teu texto é muito bonito e aborda um tema interessante.
Fica bem **