anelar

Devolve-me aquele bocadinho de mão.
- Se fores à rua, trazes-me o jornal? Havia uma notícia interessante que gostava de ler.
Se fores lá dentro, devolve-me o bocadinho de mão.
Enquanto trazes o jornal olhas para os dedos que ficaram noutra mão e para as palavras que se perderam a caminho. Enquanto voltas de jornal na mão relembras os apertos e as ternuras e os sustos das esquinas escuras.
A notícia era de facto interessante fazendo-te quase esquecer a mão.
- Não achas estranho? Que o país tenha chegado a este ponto? Que as pessoas se deixem levar por dinheiros?
Não precisavas responder, a maneira como a tua mão recebia os teus olhos respondia que apesar de interessante, nada mais te alcançava.
Fizeste-me rir. De anelar esticado, à espera que te devolvesse a mão.
Um dia devolvo, eu juro. Agora, deixa-me só segurá-la.